Estava eu, absorvido por um programa qualquer que passava na TV, mais ou menos às 10 horas de um sábado, quando Marileide me passou a triste notícia: Carlos, Martinho partiu! Aquela informação, embora sabendo da piora que ele tinha apresentado nos últimos dias de permanência na UTI do Memorial, como me pegou de surpresa e, meio confuso, entre abalado e triste, fiz uma oração em silêncio e pedi a Deus que recebesse sua alma, na paz que ele não tinha tido nas últimas semanas, desde que foi submetido a mais uma cirurgia, no tratamento do insidioso mal que o acabou derrotando. E lembrei de alguma coisa que tinha escrito, quando MMF completou 60 anos:
“Menino órfão de mãe, criado pela tia Ilza que lhe dedicou todo o carinho maternal, nascido e crescido no Jaguaribe da minha infância, eis que Martinho Moreira Franco, do alto dos seus mais de 1 metro e 80, chega aos 60 anos. E o faz de forma gloriosa “comme il fault” – como dizem os franceses. Com pompas e circunstâncias, diria o romântico Luiz Augusto Crispim ou no verdor dos anos – acrescentaria Gonzaga Rodrigues.
De Martinho, nascido Luiz (em homenagem ao pai, a quem conheci embora à distância), morador da rua da Palmeira, registro três passagens – dentre tantas outras que marcam a vida desse festejado cronista da terra. Dos mais admirados, com toda justiça.
Quando fui feito professor do Liceu Paraibano, aproveitando uma chance que me deu a diretora Daura Santiago Rangel, coube-me ensinar Física aos alunos do curso Clássico. Então, como meu aluno Martinho se mostrou inteligente, de constante bom humor que o levava às vezes a se exceder nas tiradas alegres que se transformavam em gostosas e sonoras gargalhadas, o que me levou, certa vez, a lhe advertir com a expressão que minha avó Mãe Venância, de vez em quando, nos repassava:
– Muito riso, pouco siso…
Ele jamais esqueceu a observação e às vezes a reproduz, quando nos encontramos e recordamos os bons tempos em que vivenciamos a temporada do velho Liceu.
Sua vida amorosa ele a dedicou, por força do destino, a duas mulheres com o mesmo nome de Gorete. A primeira, de quem ficou viúvo e que lhe deu os primeiros filhos, era filha do saudoso Milton Vieira que – recordo bem – muito me ajudou a construir os dois estádios de futebol da Paraíba, no governo de Ernani Sátiro. A segunda, sua atual companheira, tocou o barco criando – como se fossem dela – os três filhos que a primeira Gorete tinha trazido ao mundo, além dos dois de sua origem.
Assim, Martinho construiu uma bela família, numerosa e feliz que junta aos amigos e colegas, o homenageou, no sábado passado, cantando com ele, sorrindo com ele e até chorando com ele – emocionados ao som de “Emoções”, imortalizada pelo rei Roberto Carlos.
O segundo registro é ligado ao futebol – uma das nossas paixões. Convidado para ver, pela televisão, a final do campeonato carioca de 1989 entre Flamengo x Botafogo, na casa do meu irmão Zé Humberto, não se fez de rogado. Ao lado de torcedores alvinegros, ele em absoluta minoria, foi de uma elegância sem par. Curtiu conosco o título do Botafogo, conquistado após longos 17 anos de jejum. Então, tomamos um belo porre e saímos abraçados, meio-irmãos, meio rubro-negros, meio-botafoguenses…
O terceiro e último registro, este com um toque de saudade e de tristeza, disse-o Martinho a mim, quando o abracei na festa de aniversário dos seus 60 anos, com tantos amigos presentes: está faltando uma pessoa que, com certeza, aqui estaria presente, se pudesse. Era a ausência sentida de Tarcísio Burity, seu amigo e admirador, que nunca lhe poupou elogios e de quem se tornou amigo inseparável.”
Esse foi o texto que escrevi naquele ano e agora fecho com a mais sentida recordação e tristeza, quando o amigo e colega Josélio Carneiro me pede que lhe mande algumas linhas sobre o inesquecível e irreverente cronista que marcou época na província.
O passamento de Martinho Moreira Franco, foi lamentado e chorado por todos que privaram de sua amizade e que tiveram a chance de ler os seus escritos – com a verve que somente ela conseguia produzir.
Quando ele entrou na lista dos que já se foram e deixaram inúmeras saudades, confessei, quase em lágrimas, a minha imensa tristeza e roguei a Deus para que lhe tenha reservado um lugar de refrigério e paz, no Seu reino, para onde o queridíssimo amigo deve ter seguido, sem escalas…
Saudades, amigo MMF-74 – como ele se assinava. Qualquer dia, a gente vai se encontrar… de CP-82!
Por Carlos Pereira