Tempo louco, tempo que já foi, julho, agosto, setembro e outubro. Sim, outubro foi o aniversário dele, o jornalista Walter Galvão partiu em 7 de julho.

Tempo midiático, onde a notícia paralisa, impede qualquer movimento, quando não, acelera, enlouquece. Em instantes desconhecidos, já não é mais notícia. Tempo do novo disco do Caetano, “Meu Coco”

Vivemos nesse tempo, que nos obriga a nos acostumarmos com as perdas, eu, maria, josé, seu antonio, lucinha, david e penha. Muitos em passos de crocodilo, mas ainda não é o fim. Eu tenho a minha loucura.

Somos velados para onde vozes que habitam o lugar de fala, se desarrumam em tempos idos ou se agasalham na livre audácia dos que ainda acreditam ser o imaginável. Não é fácil. Falta a correspondência, Cícero 44 a.C, estava certo.

Galvão me falou do sociólogo francês Durkheim, de que ele afirmava que se existe uma ciência das sociedades, “é de desejar que ela não consista simplesmente numa paráfrase dos preconceitos tradicionais, mas nos faça ver as coisas de maneira diferente”. Galvão não era diferente, não era um ente, era gente a brilhar no seu sol, soul, somente só.

GalvãoJória. Eu preferia o Galvão mais longevo, mas veio o vento e levou. Ficou seu amor, Jória, os gatos, sua filha Clarice, seus livros. Ficaram suas vestes, que já estão em outros corpos.

Galvão educado, chato, na dele, amoroso, como uma canção na voz de João Gilberto. Galvão se desmanchado no ar. Galvão acolá.

Galvão sem túmulo, Galvão cinzas, Galvão de outro mundo. Galvão profundo.

Afinal, o que estou escrevendo? Fora a melancolia, que me parece tão impiedosa e me faz coabitar nas caminhadas na beira mar, na ilusão da plenitude. Talvez a dor. Ou nenhuma dor.

Ele não precisa mais dessa coisa de corpo presente. Do corpo da amada Goga. A sua eternidade foi só o olhar. Ou ficou a olhar. Ou chegou lá.

Naquela luz azul do mar, onde ainda habito, nesse tempo poço, fundo, aparo o brilho, para retomar a senda, eu quero mais é aprender com o que Galvão deixou.

Por Kubitschek Pinheiro